Era para ser apenas mais uma manhã comum no centro do Rio de Janeiro. Neymar, tentando evitar olhares curiosos, entrou discretamente em uma padaria tradicional, com o boné abaixado e óculos escuros. Mas, mesmo tentando passar despercebido, ele sentiu um toque leve em seu braço. Quando olhou para o lado, viu uma menina magra, descalça, com os olhos grandes e famintos fixos nele.
A voz dela era quase um sussurro: “Eu não tenho nada para comer.” A frase simples, quase jogada ao vento, atingiu Neymar como um soco no estômago. Acostumado a ver de tudo na vida, ele não estava preparado para aquela honestidade crua vinda de uma criança. Sem pensar duas vezes, estendeu o sanduíche que acabara de comprar. “Toma, é seu.”
Ana, como ele descobriria depois, pegou o lanche com as mãos trêmulas e devorou como se não comesse há dias. Neymar se abaixou para ficar na altura dela. “Cadê sua mãe? Seu pai?” Ana parou de mastigar por um segundo. O olhar dela, que antes era só fome, agora carregava algo mais pesado. “Eles morreram. Eu cuido dos meus irmãos, mas não tem nada lá em casa.”
Antes que Neymar pudesse perguntar mais, Ana olhou para os lados assustada e saiu correndo pela rua, desaparecendo no meio da multidão. A imagem dela fugindo ficou gravada na mente dele. Aquilo não era algo que ele podia simplesmente esquecer. Sem pensar duas vezes, Neymar saiu atrás dela. As ruas do centro do Rio eram um labirinto de gente, mas ele não estava disposto a desistir. Seguiu o rastro da menina até a favela da Rocinha, onde as vielas apertadas e o cheiro de esgoto misturado com comida velha o levaram até um cortiço caindo aos pedaços.
Ali, num quarto escuro e úmido, ele encontrou Ana. Dois meninos menores estavam com ela, encolhidos num canto, os rostos sujos e os olhos arregalados de medo. O lugar era sufocante, e o som de ratos correndo pelos cantos deixava claro que ninguém deveria viver ali. Mas antes que Neymar pudesse falar qualquer coisa, um homem apareceu na porta. Alto, com uma expressão dura e olhar ameaçador, cruzou os braços. “O que você tá fazendo aqui?” A voz dele era baixa, mas carregava perigo.
Neymar não recuou. Ele podia ter fama, dinheiro, mas ali, naquela viela, nada disso importava. O que importava era tirar aquelas crianças daquele inferno. “Tô aqui para ajudar”, respondeu firme. “E você vai me deixar levar eles.”
O homem, que depois Neymar descobriria se chamar Carlos, soltou uma risada seca. “Acha que é assim, jogadorzinho? Essas crianças têm dívida comigo.” Neymar não sabia o que Carlos queria dizer com aquilo, mas uma coisa era certa: ele não ia sair dali sem Ana e seus irmãos. Foi então que percebeu que o problema era muito maior do que imaginava.
Carlos deu um passo à frente. “A mãe deles me devia dinheiro. Muito dinheiro.” Neymar sentiu o coração acelerar. Aquilo estava fugindo do controle mais rápido do que ele esperava. “E agora? Como você vai pagar essa dívida?” Carlos continuou, os olhos estreitos analisando cada movimento do jogador.
Neymar respirou fundo. “Quanto?” Ele sabia que qualquer número que Carlos dissesse provavelmente seria inflado, mas não tinha escolha. O homem sorriu, percebendo que tinha o poder na situação. “Cinquenta mil reais.”
Era uma quantia alta, mas para Neymar não era impossível. Sem hesitar, ele pegou o celular e fez uma transferência na hora. Carlos olhou o comprovante, deu de ombros e saiu sem dizer mais nada. Assim que ele sumiu, Neymar se virou para Ana e seus irmãos. “Vocês vêm comigo.”
Ele levou as crianças para um abrigo de confiança, garantindo que teriam comida, segurança e uma oportunidade de recomeçar. Mas ele não parou por aí. Usou sua influência para mobilizar ajuda para outras crianças na mesma situação. Em poucos dias, uma campanha foi criada para combater a fome infantil no Rio de Janeiro, arrecadando milhões.
A história de Ana emocionou o Brasil. O gesto de Neymar mostrou que, mesmo com toda a fama e riqueza, ele ainda era capaz de se importar com os mais necessitados. Mas, acima de tudo, mostrou que uma simples frase, dita com sinceridade, pode mudar vidas para sempre.
