Em um caso que reacende o debate sobre liberdade de imprensa e o controle de imagem de figuras públicas, a Justiça de Santos negou dois pedidos de Neymar da Silva Santos (Neymar Pai) e de Neymar Júnior para barrar a veiculação de um podcast investigativo produzido pelo portal UOL.

A série, intitulada “Neymar – O Podcast”, analisa a trajetória do jogador e o papel central de seu pai na construção e administração de sua carreira, com base em documentos inéditos, e-mails, depoimentos e bastidores nunca antes revelados.

O conteúdo causou forte reação da dupla, que ingressou na Justiça alegando não ter tido a oportunidade de se manifestar previamente.

No entanto, a juíza responsável considerou que os argumentos não procediam e negou o primeiro pedido em 21 de abril, um dia após o ajuizamento da ação.

Mesmo assim, os representantes de Neymar e seu pai insistiram em um segundo pedido de censura, rejeitado novamente no dia da estreia do podcast, na última terça-feira (23). Após essa segunda derrota judicial, pai e filho optaram por desistir da ação.

A tentativa da família Neymar de impedir a divulgação do material foi duramente criticada por jornalistas, comentaristas esportivos e defensores da liberdade de expressão.

Isso porque a ação judicial pedia o veto à publicação sob o argumento de que precisavam de 30 dias para avaliar o conteúdo do podcast — antes mesmo de ele ir ao ar.

Ou seja, buscavam censurar previamente uma produção jornalística legítima e respaldada por provas documentais.

A jornalista Milly Lacombe, durante a cobertura sobre o caso, destacou a ironia do pedido. “Essas são as mesmas pessoas que durante as últimas eleições se manifestaram dizendo defender a liberdade de expressão.

Agora querem censurar a imprensa por estar contando uma história baseada em fatos”, criticou. Ela também pontuou que o podcast retrata como Neymar, desde a juventude, foi transformado em um “projeto empresarial”, deixando de ser apenas um atleta para se tornar um produto moldado pelo pai.

A tentativa de Neymar e seu pai de controlar a divulgação da série é vista como uma extensão do controle rígido que sempre exerceram sobre a imagem pública do jogador.

Desde cedo, Neymar foi tratado como uma marca. Seu pai, que assumiu a gestão de sua carreira, construiu ao redor do filho uma estrutura empresarial que envolve contratos publicitários milionários, transferências polêmicas e relações complexas com clubes, patrocinadores e a imprensa.

O podcast do UOL, que terá seis episódios publicados semanalmente, se propõe a revelar detalhes dessa trajetória sob uma ótica investigativa, inclusive com acesso a documentos confidenciais.

Ao longo da série, são apresentadas provas de que os envolvidos tiveram, sim, a oportunidade de dar suas versões — o que desmonta o argumento usado no processo judicial.

O primeiro episódio da série já está disponível em todas as plataformas de áudio, no canal do YouTube do UOL Prime e, posteriormente, também no canal do UOL Esporte. O segundo episódio está programado para ir ao ar na próxima terça-feira.

Jornalistas que tiveram acesso antecipado ao conteúdo reforçaram a importância do material. “É revelador.

Mostra o poder que o pai de Neymar acumulou nos bastidores e como esse controle influenciou diretamente a trajetória do atleta dentro e fora de campo”, afirmou a comentarista Alice Granette.

Ela também criticou a “arrogância” da família Neymar ao acreditar que poderia impedir a divulgação de um conteúdo jornalístico legítimo, amparado em documentos e fontes verificáveis.

O caso ganhou ainda mais notoriedade por expor os riscos à liberdade de imprensa quando figuras públicas usam o poder econômico e a influência para tentar impedir reportagens que consideram desfavoráveis.

A tentativa de censura prévia, ainda que disfarçada sob argumentos legais, foi interpretada por muitos como um ataque direto ao direito da sociedade de ter acesso à informação.

Especialistas em direito e jornalistas lembram que o papel da imprensa é justamente fiscalizar, investigar e relatar fatos de interesse público — especialmente quando envolvem pessoas que ocupam espaços de destaque e influência.

Ao recusar os pedidos de veto, a Justiça brasileira reafirmou o princípio constitucional da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, impedindo que o conteúdo fosse retido sem qualquer base legal sólida.

O caso serve de alerta para outras figuras públicas que tentam usar o sistema judiciário como instrumento de censura.

A repercussão do caso nas redes sociais e nos meios de comunicação acabou tendo um efeito contrário ao pretendido por Neymar e seu pai.

A tentativa de barrar o podcast gerou mais interesse do público e atraiu novos ouvintes para a série, fazendo com que o episódio inicial se tornasse um dos mais comentados nos dias seguintes à estreia.

Além disso, a série levanta questões relevantes sobre os bastidores do futebol, o papel da família na carreira dos atletas e até onde vai o direito de imagem frente ao interesse público.

Ao tentar impedir a veiculação de um conteúdo investigativo e jornalístico, Neymar Júnior e seu pai acabaram, involuntariamente, dando ainda mais visibilidade à produção.

A Justiça, ao negar os dois pedidos de censura prévia, reforçou um valor essencial da democracia: o livre acesso à informação.

Agora, com os episódios já disponíveis, cabe ao público tirar suas próprias conclusões sobre a história por trás do craque — e do homem que sempre esteve à frente dos bastidores.