ÚLTIMAS NOTÍCIAS: José Mauro, cantor brasileiro que alcançou o estatuto de culto após desaparecer na década de 70, faleceu aos 76 anos

O misterioso cantor e guitarrista brasileiro José Mauro morreu após uma curta doença aos 76 anos.

A Far Out Recordings, editora que relançou o seu álbum Obnoxius, de 1970, confirmou o seu falecimento numa publicação no Instagram, enviada na segunda-feira.

A editora prestou homenagem à sua vida na legenda do Instagram ao detalhar a sua carreira, que incluiu o lançamento de dois discos Obnoxius (1970) e A Viagem Das Horas (1976), e como aparentemente desapareceu na década de 1970.

Ao referir-se ao seu desaparecimento, a Far Out Recordings escreveu que “a brevidade da carreira de José Mauro levou a rumores generalizados de que Mauro tinha sido raptado pela junta militar ou que tinha morrido num acidente de viação”.

‘A realidade era mais direta: decidiu não continuar a sua carreira como artista devido à falta de sucesso comercial. O Mauro continuaria a viver e a trabalhar no Rio, a escrever música para teatro e a trabalhar como diretor musical na Escola de Teatro do Tablado, além de dar aulas de guitarra”, explica a editora.

Anos mais tarde, porém, Mauro teve de deixar de ‘tocar música’ devido a complicações de saúde.

Far Out soube que Mauro ainda estava vivo e simplesmente “vivia uma vida tranquila nos arredores do Rio”.

A Far Out Recordings deu crédito ao seu sobrinho, David Butter, por os ter ajudado a contactá-lo após relançar o seu álbum, Obnoxius, em 2016.

Depois de saberem que ainda estava vivo, juntaram-se na reedição de A Viagam Das Horas, em 2021

Após o seu regresso aos holofotes, a editora discográfica observou que ele foi finalmente capaz de “esclarecer os rumores do seu falecimento e refletir sobre a sua música, a sua vida e a sua merecida aclamação”.

No fim de semana, o seu sobrinho, David, recorreu às redes sociais para homenagear o legado de Mauro e também para informar os fãs do seu tio que este morreu de pneumonia.

Numa publicação traduzida do português para o inglês, David escreveu que o seu tio faleceu na sexta-feira.

Notou que sentiria falta da “troca diária de impressões sobre música” dele e do tio e do tempo que passavam juntos.

‘Amo-te, tio’, concluiu. ‘Tenho a certeza de que a missa que cantou hoje ressoou no lugar mais alto para o receber’.

O álbum de estreia de Mauro é considerado um clássico de culto no seu país natal.

Em 2021, Mauro refletiu sobre ter sido dado como morto durante uma rara entrevista.

‘Eu era um estudante, um estudante de música que se dedicava a compor. Simples assim’, explicou ao New York Times. ‘Natureza, era essa a minha praia. Natureza e beleza.

Mauro acrescentou que não fazia ideia do que deu origem aos rumores sobre a sua morte.

“Não consigo perceber como é que isto aconteceu”, disse. ‘Eu meio que desapareci devido ao grande intervalo entre a gravação e o lançamento dos álbuns. Mas não havia razão para pensar que eu tinha morrido!’

Joe Davis, fundador do Far Out, escreveu num e-mail para o canal que “genuinamente acreditava que Mauro tinha morrido” e recorda-se de ter ouvido o antigo produtor de Mauro, Roberto Quartin, sobre uma “possível catástrofe envolvendo o cantor” .

“Ele disse que lhe foi dito que talvez tivesse sofrido um grave acidente de mota e falecido, mas não tinha 100% de certeza”, escreveu Davis no e-mail. ‘Como ninguém sabia onde estava Mauro – nem mesmo os músicos com quem gravou – isso levou-nos a acreditar que provavelmente era esse o caso’.

Autora e jornalista, Maria Bahiana afirmou que sempre soube que ele não morreu num acidente de mota porque ‘detestava velocidade’.

“Conduzia o carro do pai a 20 quilómetros por hora”, salientou ela.

Quanto à forma como passou o tempo longe dos holofotes, o New York Times confirmou que vivia nos arredores do Rio de Janeiro, lendo e conversando com amigos.

Começou a tocar guitarra e piano na ProArte, uma prestigiada escola de música do Rio.

“A música tornou-se uma aliada e fiquei satisfeito com isso”, disse ao NY Times. ‘Não houve maior alegria para mim do que pegar na guitarra e compor por intuição. A música chegou até mim como um presente, como um dom natural.’

Enquanto crescia, ouvia os cantores americanos Bob Dylan, James Taylor, Billie Holiday e outros.

“O meu estilo é muito pessoal”, disse ao outlet. ‘Sempre me senti um músico nato, carregando músicas dentro de mim. Estava disposto a dar o meu melhor ao mundo sem abdicar do meu estilo de composição.’

Mauro revelou ainda que quando estava com ‘humor criativo’ ligava o ‘gravador’ e ‘começava a compor’.